terça-feira, 29 de setembro de 2015

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Revolución

Em Kuna Yala esteve Sebastián, um jovem mexicano, mochileiro, latino-americano de alma e de estrada, cabeludo, que viajou no mesmo ônibus que o nosso da Costa Rica até a Nicarágua. Topamos com ele na aduana, quando esperávamos o motorista retornar com os nossos passaportes carimbados. Puxei conversa, ele contou que estava voltando do Panamá, onde esteve hospedado na aldeia dos índios Kuna.

Este povo é reconhecido internacionalmente, são considerados os índios mais autonômos do mundo. E esse título não veio à toa. No início do século, a partir da independência do Panamá em 1903, o território habitado pelos Kuna foi alvo de invasores que buscavam ouro, tartarugas marinhas e outras fontes de exploração. Eles também sofreram com os ataques da polícia colonial, que assassinaram muitos índios. Descontentes com esta situação, os Kuna Yala, liderados por Nele Kantule organizaram um levante em 25 de fevereiro de 1925, que ficou conhecida como a Revolução Kuna. Eles proclamaram a República de Tule, separando-se do governo central panamenho. Em seguida foi assinado um tratado de paz, em que se estabeleceu que o Governo do Panamá zelaria pelos costumes e a cultura do povo Kuna. Daí em diante os índios aceitaram negociar, concordaram com a implantação de escolas e a expulsão dos policiais do território indígena. Os prisioneiros também foram liberados. As negociações ajudaram a pôr um fim no conflito armado e foram determinantes para a preservação da cultura dos Kuna Yala. Anos depois o território indígena foi reconhecido e estabelecido como Comarca Kuna de San Blas, com seus limites definidos. Atualmente eles têm um regimento próprio, com autonomia política e administrativa. Todo ano eles se reúnem para um Congresso Geral, onde decidem as ações da comunidade.

Sebástian nos brindou com seus relatos, falou do aprendizado na aldeia, do apoio e generosidade dos índios que o abrigaram e alimentaram e o ensinaram a tecer. Quando já nos encaminhávamos para retornar ao ônibus, o motorista o convidou para falar com uns policiais e inspetores. Adentrei ao veículo, busquei meu livro de Bolaño. Tentei ler, não consegui. Fiz um carinho em minha pretinha e recostei a poltrona. Sebastián retorna em cinco minutos. Conta-nos que os inspetores e policiais suspeitaram dele somente por ser de nacionalidade mexicana. Ele fala em tom de irritação.

- Carajo! En todo lado eso. En Panamá la misma cosa. Preguntarón cuál cartel yo represento.

Que chinguada!

Penso comigo: "Até quando isso? Até quando mexicanos, bolivianos, peruanos, nigerianos, árabes, palestinos, curdos, vietnamitas, tupinambás, xucurus, sem-terra serão discriminados e amordaçados e feridos? Até quando nós, latino-americanos, africanos, asiáticos, seremos culpados pelas misérias e barbáries e crimes do mundo? Até quando a Europa vai ser o centro do planeta? Até quando os Estados Unidos da América vão sustentar a égide da liberdade e da democracia? São eles que metralham o mundo em busca de ouro, petróleo, cocaína. São eles, não todos, um grupo pequeno deles, uma confraria de ladrões e exploradores e uma renca de explorados, viciados, soldados que obedecem e se vendem a troco de dinheiro e status e sexo e drogas. A gente tem que virar esse jogo. É evidente a luta de classes. É mais que urgente, é preciso transformar o mundo e não ficar por aí divagando como pseudo-intelectual, falando de estética e se referindo a autores clássicos e contemporâneos... é preciso muito mais, sair às ruas, sentir a massa, ir com a massa, se enganar, refletir, chorar, se contaminar, ferir-se, se indignar, lutar, morrer em nome de uma causa, de um povo, de uma terra. Aqui estamos, Nicarágua, tierra libre y de justicia social. Adelante! Mi corazón llora Sandino"

Assim ganhamos a noite, eu, indiazinha e nosso amigo Sebástian. Uma chuva torrencial caía sobre Manágua. Ele não conseguiu hospedagem, o abrigamos em nosso hotel. Na manhã seguinte bem cedinho ele partiu. Rumou para uma praia com uma amiga mochileira. Nós também botamos o pé na estrada. O Sr. Marvin foi o responsável por nos guiar até León, mas antes passamos em León Viejo, a antiga cidade que foi tomada pelas larvas do vulcão Momotombo há muito tempo atrás, séculos passados. Uma imagem ficou como lembrança, de um campesino em sua terra resistindo, lutando, com o arado e a foice, os mesmos instrumentos da revolução.

Aqui compartilho com vocês:




quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Otros Aromas

Bueno, hoy me fui hasta el Canal de Panamá. Está bien, muy interesante todo. Panamá más parece una colonia estadunidense. Muchos yanquees, muchas tiendas y carros y gente bestia que hablan como dueños del planeta. Esto es típico de ellos, de la mayor parte de los yanquees. Hay gente linda en todo lado, pero ya ya...
Ontem um taxista nos contou que o sono e a fome tem uma zona de acesso durante vinte minutos, e se conseguimos controlar durante esta faixa de tempo, tanto o sono quanto a fome vao embora... gostei do que ele disse, hoje a tarde nao consegui me controlar, dormi feito um menino no sofá.
Hecho niño, sonreí cuándo logré hacer una gran foto en el barrio de Casco Viejo. Luces, taxis amarillos, pueblo. En Casco Viejo respiramos la ciudad panameña. Hay vida, hay perritos calientes, hay música, borrachos, negros, nenas, putas, parrilladas. Ayer, de la habitación del Hotel Colón, vi a una pelea de moradores de la calle. Una señora negra que gritaba: Esto no se hace! Esto es injusto.
Injusto me parece o mundo, uns com tanto, outros com tao pouco. Os dólares que levo no bolso me perturbam. Sinto-me pesado. Ontem fomos no Centro Comercial Albrook, e caralho! como o capitalismo é um monstro de garras afiadas e seduz... tantas lojas, tantos serviços, tantas promoçoes... fantasias inúteis...
Hay que vivir para disfrutar de otros aromas. Un día llego a Kuna Yala!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Perrengue y Rutas y Colores y Buenissima Onda!

Ufa! Chegamos ao Panamá.
Esses últimos dias foram bastante vividos, diria até oportunos. A verdade é que passamos um perrengue. Saímos sexta do Brasil. Tomamos um taxi-lotacao para Pacaraima na fronteira, esperamos uma hora e meia para a alfândega, e depois outro taxi para Santa Elena, na Venezuela. Troquei alguns reais, o câmbio estava maravilhoso, mas por temer ser roubado nao saquei tanto dinheiro. Foi nessa que me quebrei! De Santa Elena fomos para Puerto Ordaz, onde pensávamos tomar um aviao para Caracas e de lá para Maracaibo. Chegamos tarde em Puerto Ordaz. Meia-noite. Conseguimos um bom hotel a um preço bom para o câmbio que fizemos. Deixamos as coisas no quarto e fomos a uma disco que estava ao lado do hotel. Que surpresa ao entrar! Havia uma grande festa no lugar, musica caribeña y techno, mucha gente a bailar, muchas parejas alucinadas, se chapando y festejando como animales. Pra ser mais preciso, havia uma pequena orgia. Tinha um casal próximo da nossa mesa, uma gordinha e um bigodudo, que se tocavam e se chupavam sem vergonha alguma. Comemos e fomos dormir, rindo aos bocados.
No outro dia fomos ao aeroporto. Tentei sacar dinheiro e nada. Várias vezes. Tomamos um táxi até um centro comercial e também nada. Esperei mais de duas horas numa fila de um banco de hijo de putas y nada. Me fizeram pegar a fila junto com os pobres coitados dos venezuelanos e ao final, nada, nao consegui. Que caralho! Que raiva! E agora, como que vamos para Caracas? Por sorte encontrei um segurança de um banco que tinha dólares e troquei por alguns bolívares. Voltamos ao aeroporto, mas já nao havia vôo. (Desculpem-me, mas os teclados aqui nao tem tiu, entao nao posso acentuar.) Voltemos... daí para a rodoviária. Compramos os bilhetes para Caracas, que por sinal foram muito baratos. Viajar na Venezuela de ônibus é baratíssimo. A gasolina é muito barata. Entao viajamos por toda a noite. Muitas barreiras policiais, muitas cidadezinhas y pueblitos y ciudades bolivarianas, donde el estado parece estar presente. Até demais! A propaganda chavista é enorme. Em cada placa de obra há uma foto de Chávez.
Nosso tempo na Venezuela foi bastante rápido. Apenas dois dias, mas deu pra perceber que há inúmeras contradiçoes nesse país. A começar pelas filas dos bancos. Os mais pobres que esperam, os ricos que tem prioridade. E talvez por isso, por ser tao gritante a desigualdade é que Chávez assuma esse papel de confronto. A classe média parece estar descontente, quase todos os taxistas nos falaram mal do governo, mas as pessoas mais simples tem muita admiracao pela figura do presidente. E estes sao maioria. Sao muitos e muitos e muitos pobres, campesinos, indígenas, miseráveis, que agora parecem amparados pelo governo. Mas tranquilo! Ainda voltaremos para Venezuela, e terei mais tempo para escrever sobre a política e a conjuntura social. Estas sao apenas impressoes. Ao contrario da Venezuela, os pobres colombianos parecem nao ter o amparo do estado. A propaganda que se vê é de empresas privadas e obras dos bancos e grupos de poderosos. Vi uma placa a caminho de Cartagena que me marcou. Dizia assim: Propriedade privada. Nao ultrapasse o limite. Pode ser pior!
E aqui estamos, no Panamá, onde conseguimos sacar plata y acessar internet. Enfim, uma boa conexao. Ainda tenho muito a escrever. Nosso trecho de Caracas a Maracaibo de aviao, que na verdade foi bastante rápido e nao teve muita graça, nossa rota num taxi lotaçao de Maracaibo a Maicao na Colômbia, que foi sofridíssimo, mas no mínimo impressionante, a experiência mais mochileira de toda a viagem até agora... campesinos y gente humilde, uma senhora indígena com sua neta que vomitava num daqueles carros Ford de 1960... mais um negro jovem que parecia cantor de hip-hop e duas mulheres cabelereiras vividas e simpáticas e mais um motorista estúpido que parecia que ia nos abandonar a cada posto policial e alfândega. Tive tanto medo quando estava na alfândega da Colômbia e ele sumiu com o carro e a mulher que demorava para carimbar nosso passaporte e corri atrás do carro e cadê ele?, e depois muita risada, eles tirando onda com a gente, casal de mochileiros desesperados... bueno, hay mucho que cuentar. também a noite em Santa Marta e o táxi com os alemaes filhos de uma égua que faziam turismo sexual e davam em cima da minha menina... e a recogida por la ciudad, las calles y carreras lindas y coloridas y colores de Colombia y Cartagena y sus favelas y el vuelo, las peleas sentimentales e ideologicas y todo esto y sueño y sueños panameños y los yanquees que llenan Panamá y hasta la Nicaragua. Vamonos!

Amigos Colombianos no Barco rumo a Manaus

Sao Luiz - MA