Ufa! Chegamos ao Panamá.
Esses últimos dias foram bastante vividos, diria até oportunos. A verdade é que passamos um perrengue. Saímos sexta do Brasil. Tomamos um taxi-lotacao para Pacaraima na fronteira, esperamos uma hora e meia para a alfândega, e depois outro taxi para Santa Elena, na Venezuela. Troquei alguns reais, o câmbio estava maravilhoso, mas por temer ser roubado nao saquei tanto dinheiro. Foi nessa que me quebrei! De Santa Elena fomos para Puerto Ordaz, onde pensávamos tomar um aviao para Caracas e de lá para Maracaibo. Chegamos tarde em Puerto Ordaz. Meia-noite. Conseguimos um bom hotel a um preço bom para o câmbio que fizemos. Deixamos as coisas no quarto e fomos a uma disco que estava ao lado do hotel. Que surpresa ao entrar! Havia uma grande festa no lugar, musica caribeña y techno, mucha gente a bailar, muchas parejas alucinadas, se chapando y festejando como animales. Pra ser mais preciso, havia uma pequena orgia. Tinha um casal próximo da nossa mesa, uma gordinha e um bigodudo, que se tocavam e se chupavam sem vergonha alguma. Comemos e fomos dormir, rindo aos bocados.
No outro dia fomos ao aeroporto. Tentei sacar dinheiro e nada. Várias vezes. Tomamos um táxi até um centro comercial e também nada. Esperei mais de duas horas numa fila de um banco de hijo de putas y nada. Me fizeram pegar a fila junto com os pobres coitados dos venezuelanos e ao final, nada, nao consegui. Que caralho! Que raiva! E agora, como que vamos para Caracas? Por sorte encontrei um segurança de um banco que tinha dólares e troquei por alguns bolívares. Voltamos ao aeroporto, mas já nao havia vôo. (Desculpem-me, mas os teclados aqui nao tem tiu, entao nao posso acentuar.) Voltemos... daí para a rodoviária. Compramos os bilhetes para Caracas, que por sinal foram muito baratos. Viajar na Venezuela de ônibus é baratíssimo. A gasolina é muito barata. Entao viajamos por toda a noite. Muitas barreiras policiais, muitas cidadezinhas y pueblitos y ciudades bolivarianas, donde el estado parece estar presente. Até demais! A propaganda chavista é enorme. Em cada placa de obra há uma foto de Chávez.
Nosso tempo na Venezuela foi bastante rápido. Apenas dois dias, mas deu pra perceber que há inúmeras contradiçoes nesse país. A começar pelas filas dos bancos. Os mais pobres que esperam, os ricos que tem prioridade. E talvez por isso, por ser tao gritante a desigualdade é que Chávez assuma esse papel de confronto. A classe média parece estar descontente, quase todos os taxistas nos falaram mal do governo, mas as pessoas mais simples tem muita admiracao pela figura do presidente. E estes sao maioria. Sao muitos e muitos e muitos pobres, campesinos, indígenas, miseráveis, que agora parecem amparados pelo governo. Mas tranquilo! Ainda voltaremos para Venezuela, e terei mais tempo para escrever sobre a política e a conjuntura social. Estas sao apenas impressoes. Ao contrario da Venezuela, os pobres colombianos parecem nao ter o amparo do estado. A propaganda que se vê é de empresas privadas e obras dos bancos e grupos de poderosos. Vi uma placa a caminho de Cartagena que me marcou. Dizia assim: Propriedade privada. Nao ultrapasse o limite. Pode ser pior!
E aqui estamos, no Panamá, onde conseguimos sacar plata y acessar internet. Enfim, uma boa conexao. Ainda tenho muito a escrever. Nosso trecho de Caracas a Maracaibo de aviao, que na verdade foi bastante rápido e nao teve muita graça, nossa rota num taxi lotaçao de Maracaibo a Maicao na Colômbia, que foi sofridíssimo, mas no mínimo impressionante, a experiência mais mochileira de toda a viagem até agora... campesinos y gente humilde, uma senhora indígena com sua neta que vomitava num daqueles carros Ford de 1960... mais um negro jovem que parecia cantor de hip-hop e duas mulheres cabelereiras vividas e simpáticas e mais um motorista estúpido que parecia que ia nos abandonar a cada posto policial e alfândega. Tive tanto medo quando estava na alfândega da Colômbia e ele sumiu com o carro e a mulher que demorava para carimbar nosso passaporte e corri atrás do carro e cadê ele?, e depois muita risada, eles tirando onda com a gente, casal de mochileiros desesperados... bueno, hay mucho que cuentar. também a noite em Santa Marta e o táxi com os alemaes filhos de uma égua que faziam turismo sexual e davam em cima da minha menina... e a recogida por la ciudad, las calles y carreras lindas y coloridas y colores de Colombia y Cartagena y sus favelas y el vuelo, las peleas sentimentales e ideologicas y todo esto y sueño y sueños panameños y los yanquees que llenan Panamá y hasta la Nicaragua. Vamonos!
Quanta aventura!
ResponderExcluirCaros amigos,
ResponderExcluirao imaginá-los nessas situações só consigo criar cenas fantasiosas, povoadas de exóticas criaturas humanas - que muito provavelmente são bem próximas às experiências reais.
Agora entendo porque a nossa américa latina tem tanto realismo fantástico. Como não delirar em sonhos mágicos com tantas pessoas e lugares caleidoscopicamente compostos, com essa luz esquisita, esse clima louco, e também familiar, com o sentimento de pertencimento, identificação e ao mesmo tempo repulsa e estranheza.
Gostaria de estar escrevendo uma carta e não um comentário!
Mal posso esperar pelo retorno dos dois queridos viajantes (do espaço e do tempo).